Fora de casa é mais fácil

Botafogo acredita que renderá mais sábado,
contra o Coritiba, longe da torcida

RICARDO CALAZANS

Do jeito que as coisas andam no Botafogo, o técnico Antônio Clemente está dando graças a Deus pelo próximo jogo do time, sábado, contra o Coritiba, ser na casa do adversário. O treinador considerou as vaias da torcida uma das causas da derrota para o Juventude, na quarta-feira, em pleno Maracanã. E citou o caso do atacante Valdir como exemplo. "Ele não estava bem na partida e recebeu uma pressão muito forte. Tirei-o para preservá-lo. Lá no Couto Pereira não vai ter ninguém aporrinhando, ele vai jogar melhor", disse Clemente.

O apoiador Sérgio Manoel tem a mesma opinião do treinador. "Atualmente está sendo mais fácil jogar fora de casa. A cobrança é menor", disse, lembrando que a única vitória do Botafogo no Campeonato Brasileiro aconteceu justamente na Vila Belmiro, dia 18 passado, contra o Santos. Dos nove jogos restantes do time na competição, quatro serão fora de casa - além do Coritiba, o Botafogo enfrentará Paraná (6/10), Grêmio (20/10) e Palmeiras (6/11). "Ontem (quarta-feira), o Juventude somou seis pontos: três deles e três que tiraram de nós. Para tentarmos nos redimir um pouco, temos a obrigação de vencer o Coritiba fora de casa", disse Sérgio Manoel.

E têm mesmo, a julgar pelas estatísticas divulgadas ontem pelo Instituto de Matemática da Universidade de São Paulo (USP), segundo as quais só restam 9% de chances de o Botafogo permanecer na Série A do Brasileiro na próxima temporada. Para tentar reverter esta situação, o Botafogo precisa ganhar, no mínimo, 15 pontos nos nove jogos restantes. E , ainda assim, irá se salvar com apenas 46% de chance, que se ampliará sucessivamente para 60% (ganhando 16 pontos), 71% (17), 83% (18), 92% (19), 95% (20), 97% (21) etc. Teoricamente, a missão dos alvinegros é praticamente impossível. Mas a esperança ainda não morreu em Caio Martins. "Estou otimista para caramba. Vamos decidir nossa sorte em campo", disse Sérgio Manoel, rechaçando os boatos cada vez maiores de virada de mesa.

O bode expiatório alvinegro

Valdir tenta vencer má fase e releva vaias da torcida

A impaciência da torcida alvinegra com Valdir atingiu seu ápice no jogo de quarta-feira, contra o Juventude. Com menos de um minuto de jogo, assim que o atacante tocou na bola - e deu um passe - correto - para Russo - começaram as vaias. Valdir sabe que está devendo: desde que chegou ao clube, em maio, só marcou três gols. E tenta entender as vaias o melhor que pode. "Não sou o primeiro nem o último jogador a ser vaiado. Já vi grandes estrelas nessa situação. Sei que não sou uma delas. Sou apenas um bom jogador atravessando um momento ruim", diz.

Não que Valdir esteja conformado com a situação. "Qualquer um que leva uma vaia fica mal. Ouvi o Casagrande na TV contando sobre uma vaia que levou: ele ficou gelado, diante de 40 mil pessoas, depois de ter perdido um pênalti. Quando vem a vaia, todas as coisas ruins vêm junto. O que pode acontecer de errado fica pior, se você não está bem", conta. Por incrível que pareça, é dentro de campo, diante dos estádios vazios - "o eco dos xingamentos vem todo no seu ouvido" - que Valdir sente-se melhor. "Ali eu estou bem, porque me concentro mais no trabalho."

E, se o trabalho não tem surtido efeito, ele não quer ser o único responsável. "Está difícil para eu finalizar? Está. Mas também está difícil para os companheiros tocarem a bola, lançarem, defenderem. Quando os 11 estão vencendo, um ou dois que arrebentam se destacam. Quando o time perde, não se destaca ninguém", diz. "Se eu estivesse bem individualmente, não adiantaria de nada. Não sou tenista."

Incomodado com a própria situação - "nunca vivi um jejum tão ruim" -, Valdir sente-se perdido. "É como se eu caminhasse por uma rua escura, sem saber o que vou encontrar pela frente. Fico olhando para os lados, desconfiado." Abandonar o barco, porém, jamais. "Isso nunca. Eu me considero com um débito muito grande com a torcida. Tenho que ficar na minha, trabalhar, correr atrás. Mesmo porque o futebol me dá tudo o que eu tenho, não posso separar a má fase da minha vida pessoal. Perdendo ou ganhando, tenho que continuar trabalhando." (R.C.)