Sábado, 16 de outubro de 1999

Um técnico galã em Juiz de Fora

Clemente, modelo nos anos 60,
comanda Botafogo contra a Portuguesa

CAIO CASTRO LIMA

Ser o garoto-propaganda da marca de cigarros Hollywood nos anos dourados - comecinho da década de 60 - era um sonho para qualquer rapaz. Com isso, a fama viria e as belas mulheres cairiam a seus pés. E foi justamente o que aconteceu com o atual treinador do Botafogo, Antônio Clemente, 63 anos, 1,84m e 102kg, criado desde 43 no Posto 2, em Copacabana.

Clemente hoje volta a comandar o alvinegro em Juiz de Fora, às 16h, contra a Portuguesa, em mais uma tentativa de livrar o clube da Série B. "Eu era de uma família de classe média para pobre e estava sem grana. Recebi um convite da Hollywood. Naquele tempo era muito dinheiro. Então, aceitei. Logo comprei um carro e ainda sobrou verba", contou Clemente. "Mas eu nunca fumei e não fumo", faz questão de frisar.

Fazer a propagandas de cigarro não era o único atrativo de Antônio Clemente. Ele também lutava jiu-jítsu - chegou à faixa preta. E foi por causa do jiu-jítsu que surgiu o apelido de Toninho Cavalo. "Uma vez fui fazer um treino contra um francês, em um ringue construído no Posto 6, em Copacabana. Antes de a luta começar, ele me deu um tapa. Foi um quebra-pau só, voava cadeira para todos os lados", disse. "O francês começou a gritar cheval, cheval, aí ficou Toninho Cavalo. Naquela época, eu ficava com raiva, hoje não ligo mais", afirmou. "Mas antes da raiva passar, muitas outras confusões vieram por causa desse apelido. Meus amigos, como sabiam que eu os iria ajudar, arrumavam briga", comentou.

Antônio Clemente era mesmo o galã de Copacabana, nos românticos anos 60. "Eu tive muitas namoradas. Como o meu rosto estava em revistas espalhadas pelo Brasil, fiquei conhecido. E eu tinha também muitos amigos influentes, como o Walter Clark (então diretor da TV Globo). Namorei muitas mulheres da alta sociedade e muitas misses", comentou. Segundo o próprio técnico alvinegro, ter amigos é uma de suas qualidades. "Eu ajudei a salvar muitas pessoas naquela época de repressão. O Elói Dutra mesmo foi um que ajudei. Eu o empurrei no muro da Embaixada. Também dei fuga, no meu próprio carro para muita gente", revelou.

Hoje, ao contrário da época de durão, Clemente, um procurador federal aposentado, além de ser formado em administração esportiva e advocacia, prefere viver de forma tranqüila. Quem o vê passeando com um cachorro da raça poodle no calçadão, nem acredita que está vendo um faixa preta em jiu-jítsu. "Eu adoro animais. Tenho 12 cães, de várias raças. Tenho filas, poodles, doberman, husk e vira-latas", contou. E o futebol, onde se encaixa nessa história? "O futebol é um dos meus combustíveis para a vida. Hoje, não dependo mais do futebol financeiramente, mas dependo psicologicamente", declarou.

Ordem é evitar o relaxamento

Objetivo do time é manter a seriedade

O vice-presidente de futebol do Botafogo, Carlos Augusto Montenegro, disse que vencer o Flamengo, de virada, e no último minuto, era melhor do que ganhar o Brasileiro. Mas os jogadores alvinegros e o técnico Antônio Clemente pensam diferente. "Se nós acharmos que vencer a Portuguesa será fácil só porque derrotamos o Flamengo, vamos nos dar mal. Nós temos que dar seqüência ao ritmo de vitória. Já sofremos muito. E amadurecemos, também. Não podemos menosprezar a Portuguesa", afirmou Rodrigo.

"Só poderemos sair felizes dessa luta e nos distanciarmos da zona de rebaixamento se continuarmos com a mesma aplicação", comentou Sérgio Manoel. "Relaxar é uma coisa que só poderemos fazer no último jogo. Mesmo assim se os outros resultados forem positivos", declarou. "Nós apenas estamos melhorando e caminhando em direção à saída. Temos que manter a seriedade para não nos abalarmos", afirmou Clemente.

O julgamento do jogador Sandro Hiroshi, do São Paulo, será segunda-feira. O Botafogo pode ganhar os pontos da partida (que perdeu por 6 a 1, em 4 de agosto) porque o jogador não estava regularizado.

Inter é o principal adversário

De acordo com Sérgio Wechsler, do Instituto de Matemática e Estatística da USP, os principais adversários do Botafogo na luta contra o rebaixamento são Internacional e Gama. O índice de rebaixamento do Botafogo é de 0,966, à frente de Paraná, com 0,853, Juventude, 0,851, e Botafogo/SP, 0,667. Inter e Gama têm, respectivamente, 1,057 e 1.

Botafogo: Wagner; Luiz Paulo, Sandro, Jorge Luis e Clóvis; Reidner, Marcelinho Paulista, Rodrigo e Sérgio Manoel; Zé Carlos e Valdir. Técnico: Antônio Clemente.

Portuguesa: Fabiano; Alexandre Chagas, Jorginho, Fabrício e Marcelo Santos; Simão, Sandro Fonseca, Evandro e Alexandre; Leandro e Aílton. Técnico: Juninho Fonseca.

Local: Estádio Municipal (em Juiz de Fora, MG). Horário: 16h. Juiz: Márcio Rezende de Freitas, auxiliado por Márcio Eustáquio Santiago e Marco Antônio Gomes (todos de MG).